15.9.12

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22.3.08

Dedicatória do anjo (07.07.07)

"Ojalá que te vaya bonito" de Enrique Urquijo y Los Problemas
Ojalá que te vaya bonito
Ojalá que se acaben tus penas
Que te digan que yo ya no existo
Que conozcas personas más buenas.
Que te den lo que no pudo darte
Aunque yo te haya dado de todo
Nunca más volveré a molestarte.
Te adoré, te perdí, ya ni modo.
Cuántas cosas quedaran prendidas
Hasta dentro del fondo de mi alma.
Cuántas luces dejaste encendidas
Yo no sé como voy a apagarlas.
Ojalá que mi amor no te duela
Y te olvides de mí para siempre.
Que se llenen de sangre tus venas
Que la vida te vista de suerte.
Yo no sé si tu ausencia me mate
Aunque ya tengo el pecho de acero
Pero nadie me llame cobarde
Sin saber hasta donde te quiero.

SEM OLHAR PARA TRÁS (08.07.07)

Está feito. O compromisso acabou.
Estás livre para seguir a tua vida, diz-me;
Tens tudo para seres feliz, reitera.
Sorrio tristemente - até gostaria
De poder continuar a esperar por uma aberta
Neste céu nublado de obstáculos e preocupações.
Mas não posso e
Não farei tal coisa a mim própria.
Pesei o tempo, o retorno e as probabilidades
E decidi.

Decidi que lhe daria um último beijo,
Que lhe desejaria sorte e que partiria
Sem olhar para trás uma única vez...
E foi isso que fiz quando chegou a hora.

CITAÇÕES III

retiradas de "Amor em Tempos de Cólera" de Gabriel García Márquez:
. «Mas ali estava. Queria encontrar a verdade e procurava-a com uma ânsia apenas comparável à do terrível temor de a encontrar, instigada por um tufão incontrolável.» (p.257)
. «(...) aprendeu aquilo que já muitas vezes tinha padecido sem o saber: que se pode estar apaixonado por várias pessoas ao mesmo tempo, e por todas com a mesma dor, sem atraiçoar nenhuma. (...) O coração tem mais quartos do que uma pensão de putas.» (p. 290)

LUA CHEIA NA ILHA (07.07.07)

Embora a deseje, estranho a sua ausência.
Estranho a sua falta de participação
Neste circo que tem sido a minha vida ultimamente.
Estranho-a...
Quando finalmente julgava que a conhecia
E que a entendia, eis que me surpreende.

Pensei que fosse aproveitar a oportunidade
Entregue em bandeja de prata,
Debaixo do céu estrelado da ilha do sotavento.
Não o fez - o que me poupou aborrecimentos.
Em vez de aproveitar, deu-me a oportunidade
De ser eu a descobrir o que se faz em noite de lua cheia,
Num imenso areal, onde o vento e o fogo
Se confundem com a febre dos nossos corpos.

AQUI JAZ MICHA (03.12.99)

Começo a pensar que tudo é escuro;
Apenas às vezes as coisas são negras.
O claro já não existe. Já não sei o que é a luz.
Sinto que tudo me abandonou
e, ali no fundo do poço, jaz um corpo:
Sou eu, sem cor, sem sentidos,
Sem sentimentos, sem vida...
Que mundo é este
Em que me encontro e não me reconheço?
É o limbo, é o purgatório?
Ou é já o inferno?
Mas, se assim é, onde estão as chamas?
Já tenho a dor, faltam as chamas...

Quero gritar, chorar!
Quero libertar-me da dor!
Não consigo chorar: não sei se
Porque já não tenho lágrimas ou
Porque já não sou eu que estou aqui...
Não sei mais o que digo; estarei louca?
Estarei morta e este é o meu espírito
Que vagueia por entre os vivos?
No entanto, não os assusto;
Eles desprezam-me simplesmente.
Sou um corpo que jaz ali e
Uma alma que ninguém vê...
Matem-me de uma vez!

SPLIT (28.11.99)

Porque me sinto tão mal a fazê-lo?
Porque me invade um sentimento tão baixo?
Se é o que quero e o que sinto,
Porque me culpo?
Porque me acusa a minha consciência?
O pacto inicial era este...
Estou a cumpri-lo.
A confusão invade-me ao ponto de
Chorar convulsivamente com dores!
Prefiro morrer a passar pelo mesmo;
Só queria que alguém decidisse por mim!...

1.8.07

O SUSPIRO (22.10.99)

Escrevo sem parar
Mas, mesmo assim, não consigo ver
O final da minha fonte.
Quanto mais tinta faço correr,
Mais quero dizer.
Mas o desabafo é contínuo -
É um imenso e intenso suspiro
Que dou pela manhã ao acordar
E prolongo até ao deitar.
Ao adormecer,
O suspiro continua, embora em sonhos.

DERRADEIRA LEMBRANÇA (12.10.99)

Vi a morte. Ela olhou-me nos olhos.
Disse-me que estava à espera...
Um dia, não haverá aviso;
Virá apenas e tolherá a minha vida,
Tal como todas as outras.
Não vi a luz ao fundo do túnel,
Nem a vida toda diante dos olhos.
Vi apenas alguns momentos e,
Em quase todos, estavas tu.
Terias sido a minha derradeira lembrança.
Nada faz mais sentido.
Que mais devia eu lembrar ao morrer
Se não a minha vida?

Tragédia ou hipérbole,
O meu último pensamento foi teu.

ABANDONO (23.09.99)

Sensação de perda
Sem nunca ter ganho o que sinto perder.
É o desalento total!
O mundo abriu-se debaixo de mim
E suga-me para o seu interior.
Sinto-me abandonada e só.
Este é o pior dia da minha vida.
Quero fechar os olhos e,
Quando os abrir,
Quero que tudo esteja bem.
Quero dormir, esquecer, ultrapassar...!
O sonho tornou-se um pesadelo
De proporções que nunca imaginei.

UM SENTIDO ÚNICO (31.05.99)

Ouço ruídos fora de mim que não escuto.
Não quero saber do que não sinto.
E o que sinto já me é suficiente.
Umas vezes, parece-me pouco -
- Sinto-me vazia.
Outras, demasiado -
- Sinto-me a transbordar.
Não há para onde escoar,
Não há para onde fugir;
A minha sombra está sempre comigo.

Mas agora não há do que fugir.
Quero o que vem aí;
Quero muito continuar a amar.
Quero-te, desejo-te!
Desejo loucamente querer-te para sempre!
Desejo gritar bem alto que te amo.
Só não o faço com receio de ensurdecer o mundo.

02-Abr-1999

Eu quero aguentar, mas ninguém aguenta tanto. Nem o mais estóico dos seres! Quero segurar as lágrimas, mas elas escorrem-me pela face, numa torrente infindável... Quero gritar, espernear, bater. E depois? E se o fizer? Que sucederá depois?
Nada voltará a ser o mesmo. Mas não é isso que quero?! Quero que mude algo, que mude tudo!
Posso ser fria mas tenho sangue quente e que ferve muito; ferve agora muito mais e mais rapidamente do que dantes. Anteriormente, podias dizer-me (gritar-me, atirar-me à cara) tudo o que quisesses e tal não me incomodaria. Mas as coisas mudaram...
Agora choro (de raiva, de dor...), rasgo a roupa e a carne com as unhas, escondo-me debaixo dos lençóis, mas choro. São lágrimas de água e sal, só porque não tenho sangue nos olhos...
Tremo, mas ainda consigo manobrar a caneta, de modo a canalizar a minha raiva para o papel e não para uma pessoa - a tua! Mas não sei quanto tempo mais vou aguentar; não sou de ferro (se fosse, já havia derretido com o calor da raiva que trago dentro de mim), não sou assim tão fria.
Quero paz. Só espero que estejas disposta a dar-ma...

DESISTIR (23.02.99)

Seria tão mais fácil (é mais fácil!)
Simplesmente desistir:
De tudo, de todos,
Principalmente de mim...
Sinto-me a cair de uma varanda
E a queda não tem fim.
Cada metro agudiza a agonia;
A pressão é insuportável...
Fecho os olhos e
A velocidade aumenta vertiginosamente.
Quero uma saída:
Desistir é a mais fácil,
Talvez a mais cobarde, mas a mais fácil;
Apesar de, como dizes,
Ao desistir de tudo e de todos,
Também desistir do futuro.
Mas que tem o futuro para mim?
Mais dor? Mais sofrimento?
Não quero, obrigado!

19.7.07

MEU FAROL (17.02.99)

Meu farol, minha vida...
Onde estás, onde te escondes?
Desde que a luz se extinguiu
Me sinto perdida.
Quero sentir o teu calor,
A tua direcção e nada vejo.
Nada, apenas escuridão.

Sou compelida a ir num sentido:
Naquele que menos interessa.
Sem o meu farol, vou no rumo errado.
Meu farol,
Quem te tapa a luz que me guia?
Quem ousa tirar-me a bússola?
Quem ousa matar-me?

Sinto desânimo, tristeza;
Ninguém me vê e
Eu não vejo o caminho...

Que a luz volte ao seu lugar,
Que se volte para mim,
Que banhe a minha vida,
Que me guie pelos caminhos tortuosos!

Ganha luz, minha vida, meu farol...
Não me abandones ou serei uma náufraga.

CITAÇÕES II

retiradas de "O Evangelho segundo Jesus Cristo", de José Saramago
. «não é preciso ter culpa para ser culpado», p.154
. «mas os pecados são outra coisa, os pecados atormentam por baixo do que se vê, (...) não são lepra de fora, mas são lepra de dentro.», p.402

ESPELHO MEU (31.01.99)

Relação de amor e ódio
Que não posso explicar...
Como qualquer uma, é dúbia e dupla.
Não quero olhar,
No entanto, não quero resistir.
Nenhuma outra é tão forte,
Como a que (man)tenho com ele.
Quando para ele olho, sinto-me desejada;
Contudo, ele magoa-me:
Mostra-me o meu passado,
Reflectido em tudo o que faço e sou hoje.

Passo horas a observá-lo
Porque, quando o faço, vejo-me a mim.
Tudo o que é, eu sou.
Tudo o que ele diz é verdade.
Tudo o que ele mostra, eu fiz.
Ele representa o presente,
Mas vive para o passado...
Força-me a olhar para dentro de mim.

Meu companheiro de aventuras...
Posso mentir a todos, mas não a ti.
Ajudas-me a construir
As histórias da minha vida:
As que são e as que quero que sejam.
E só tu sabes a diferença entre elas -
Será o nosso segredo.

7.7.07

REGRESSÃO (03.01.07)

Após todas estas viagens, incluindo a que fiz
Para entrar no novo ano com o meu anjo,
Sinto-me perdida...
Foram dias angustiantes e, pior!,
Noites terríveis - povoadas de sensações ofegantes,
Demónios de ontem, tremores e olhares desconcertantes...
Foram horas a contactar o meu gigante
Em busca de conforto que o meu anjo não pôde dar-me;
E foram eternidades quando não o encontrava!

Lentamente, mas mais rápido que antes,
Enlouqueço, desespero...!
Choro, tenho atitudes paranóicas (como agora)!
Quero suplicar ao gigante que venha ao meu encontro,
Mas tenho medo.
Receio que ela se antecipe e mo roube.

FEBRE DOS SENTIDOS (10.12.06)

A confusão baila em mim quando não deveria.
Depois do deleite dos ouvidos e dos olhos,
Eis que lhe pedi um deleite para o tacto.
E algo inédito sucedeu -
Foi capaz de sugar o meu calor!
A intensa e inesgotável fornalha que me preenche
Rendeu-se e gelou perante o seu toque;
Uma imensa e avassaldora febre me tomou!
Incapazes de compreender o sucedido,
Juntos quedámos a olhar-nos e perscrutar-nos.
Até adormecermos no mesmo aposento,
Apenas separados por um fôlego...

LOTARIA (16.10.06)

Eis que me foi sorteada uma lotaria -
Ganhei um amigo.
Dada a sua estatura, mas principalmente
O seu coração e generosidade,
Apelidá-lo-ei de meu gigante!
Escolheu-me pelo jardim que albergo
À flor da minha pele.
Mas depois algo mais viu em mim e quedou-se.
Que sorte a minha!

Abri-lhe o meu coração, mostrei-lhe a alma.
Perguntou-me a razão para tal - é simples:
Senti que podia.

A DESPEDIDA (27.03.05)

Foi um choque para mim e para todos -
O Pedro morreu.
A notícia foi uma bomba que ainda nos abala.
Na época em que celebram a ressurreição de Cristo,
Eis que me despeço de quem não tem esse poder.
Não me interessa saber como foi a sua morte ou
Se foi sua a falta - o Pedro partiu. Choremos.

Na hora de o cobrir com a terra que o acomodará,
O arco-íris apareceu por entre as nuvens ameaçadoras.
Veio despedir-se dele - que pensamento poético...
Chorei de revolta. Tinha a vida pela frente e,
No entanto, esbarrou com a morte, que o levou.

Deixámos a sua última morada.
E então, olhei para trás e vi um segundo arco-íris -
Também o Pedro veio despedir-se de nós.

ANESTESIA (22.03.05)

Nem quero crer no estado em que vim!
Venho maravilhada, conquistada.
Agora, sei mesmo que o quero -
A meu lado, ao meu redor, dentro de mim...
Quero-o como o anjo que é - omnipresente.
Nos dias em que estive com ele, revelou-se-me:
Carinhoso, atencioso, divertido, amável,
Amigo, amante. E eu apaixonei-me.
Vivi anestesiada de toda a dor naqueles dias;
Só quis saber dele e da sua vida.
Quis conhecê-lo e dar-me a conhecer,
Embora soubéssemos já tudo um sobre o outro.

A primeira noite de amor com ele pareceu ser
A original - eu era virgem e ele desbravou-me.
Senti-me bela e fui amada;
Senti-me querida e amei-o.

E, agora que regressei, só quero voltar para ele...

IMORTALIDADE INTERROMPIDA (17.08.04)

Que faço? Se réstia de esperança havia, acabou!
Ao tentar encontrar a cura, tropecei noutro mal.
A todo o custo, o destino tira-me qualquer hipótese
De poder deixar o meu nome imortal.
Na ignorância, sonhei todos estes anos com descendência,
Desconhecendo que, desde a infância, estou marcada.
A máquina natural não efectuou uma mudança
E, portanto, fui eliminada da cadeia da evolução
Pela sua própria teoria...

O REMÉDIO (25.04.04)

É estranho para o meu ser
Não ter nada para escrever...
Tal não significa que estou vazia;
Pelo contrário, embora assim me sinta.
Agora, encontro-me entre caras que não conheço
(Nem desejo conhecer) - gente distante,
E assim quero mantê-las.
Neste momento, é no meio de desconhecidos
Que conheço a paz...
Apazigua-me não ter de falar, sorrir ou ser educada.
Tranquiliza-me saber que vou embora.
Acalma-me o facto de não preocupar ninguém
Ou de magoar alguém inadvertidamente.
Portanto, não estou vazia - estou cheia.
Cheia de paz - o remédio...

2.7.07

PLENITUDE (27.01.99)

Tento em vão que a minha vida valha mais do que isto,
Mais do que este passar dos dias:
Lento, umas vezes; rápido, outras.
Que não permite agarrar os momentos,
Apenas agarrar-me a eles.
E eles não duram indefinidamente,
Para sempre.
Simplesmente não duram.

A vida tem que ser mais do que isto:
Do que este marasmo físico,
Talvez compensado por uma hiperactividade psíquica.
Mas não se vive só da mente,
Apenas do pensamento,
Dos sentimentos e do sofrimento.

Não se vive só assim,
Não se vive só isto.
Recuso-me a aceitá-lo;
Recuso-me a não ser plena.
E quando o digo,
Quero dizer encarar o bom e o mau;
Sorrir e sofrer;
Dar e receber;
Ouvir e falar;
Amar e ter.

Apenas no morrer não quero ser plena...

CURA (12.12.98)

Chora, chora por ti.
Não rias enquanto o sol não nascer.
De noite, todas as lágrimas valem...
Mesmo ao luar, nenhuma se vê.
Mas todas se sentem;
Talvez mais ainda,
Pois o sol secá-las-ia
E acariciar-te-ia a face.

Para acabar com o sofrimento
Tens de sofrer mais ainda,
Sofrer o dobro do que já sofreste.
Terás de sofrer por ti
E pelos outros que te magoam.

Por isso, chora.
Chora até secares a fonte da mágoa.
Sem sofrer, não te conhecerás.
Sem venceres a mágoa, não te respeitarás.
Sem respeito, não te amarás.

16-Set-1998

Travamos uma luta corpo-a-corpo, o meu corpo e o teu. E a carne é fraca, a tua e a minha.
Embalamo-nos numa dança erótica, ofegante e quase proibida. Estão todos a ver-nos. Nós a dançar no meio e todos em volta a olhar e a desejar ser o par que dança. Cada volta, cada toque, cada mão no seu lugar proibido.
Descontrolo-me, quase grito de prazer... Respiro, ofegante, para cima do pescoço dele... Quero-o, quero-o ali! Quero-o loucamente!...
Mordo os lábios, tenho a garganta seca e sinto-me a arder. Quero parar, mas não consigo! Ele não pode ser meu e eu não posso ser dele... Mas queremo-nos! Como nos queremos...
Todo o meu corpo está ensopado de líquidos indevidos. A música nunca mais pára e, mesmo que parasse, nós não o faríamos...

ESPERA (10.07.98)

Espero pacientemente pela tua voz
Espero ouvi-la todas as noites
Mas tal nunca sucede.
O que apenas sucede são as noites
E os dias: longos, brancos, vazios.
Vazios de ti e de mim...
Não te tenho, não te ouço;
Apenas te sinto
E cada vez mais longe de mim.
O vazio é tão grande!
É quase absoluto.
Quase porque ainda tenho esperança,
Esperança de te ouvir esta noite.

DEPOIS DA MENTIRA (15.03.98)

Não compreendes que já não sou aquela
Não quero, não sou
E já não faço o que sabes de mim.
Quero que a mentira acabe,
Mas se ela acabar, o que restará de mim?
O que restará das minhas memórias,
Das minhas histórias,
Dos meus sonhos,
Das minhas vidas,
Do meu ser?
O que restará de mim.....................?
O que restará daquilo que já não sou?
Diz-me o que virá depois de mim...

LOUCURA (10.01.98)

Que loucura é esta
Que me cerra o olhar
E me aviva a cegueira?
Que me cobre os ouvidos
Mas me obriga a ouvir
Mesmo que eu não queira...
Que me obriga a chorar
E relembrar histórias de amor
De quem, em tempos, foi amado...
Que me faz sofrer sempre,
Cada instante morro um pouco,
Mas não posso morrer calado!

RECOMEÇAR (28.04.97)

Começar tudo de novo,
Recomeçar,
Cortar o cordão que me liga a um passado.
Recomeçar...
Tomar decisões diversas
Daquelas que tomei antes
Perante situações iguais.
Recomeçar...
Sentir que sou outra;
Outra pessoa, outra mulher.
Saber que posso dizer "basta"
E começar com outro alento.

Sozinha (10.12.96)

Ando no meio da estrada
Com o vento nos meus cabelos
E a chuva no meu rosto
E penso: não sinto nada...

Com o pensamento longe donde estou,
Com o olhar distante do mundo
E a respiração quase extinta
E penso: já não sinto nada...

OUTRA GERAÇÃO (10.09.96)

És tudo o que abomino:
A ignorância,
A doença,
O autoritarismo,
O tédio,
A velhice...
Só espero nunca chegar a um ponto
Em que tudo pára e
Eu passo a viver repetidamente
Aquilo que já disse, fiz, vi e vivi...

aLiEnAçÃo (30.05.96)

Agora, por tua causa, já nem penso.
Não oiço aqueles que para mim falam.
Estou alienada; sinto-me difícil de prender
Dentro do meu próprio corpo...

26.4.06

CAIXA DE PANDORA

Uma autêntica caixa de Pandora chegou às minhas mãos e eu que fiz? Naturalmente, abri-a. Não julguei que tivesse a dimensão da lenda mitológica. E não teve - foi imensamente superior, cabalmente arrasadora! Por toda a parte, voavam pedaços do meu mundo; por todo o lado, jaziam estilhaços de mim.
Quando encontrei a caixa, guardei-a junto do coração e foi aí que a descerrei - longe dos olhares de todos. E tudo foi desencadeado...
Julguei que, ao esconder a angústia, ela desaparecesse; pensei que, ao libertá-la no meu coração (sem mostrá-la), os efeitos fossem mínimos.
Enganei-me! Ao tentar desesperadamente escondê-la, acabei por demonstrar ao mundo quão fraca sou. Perdi o controlo sobre mim - o meu corpo não me obedece; a mente tão-pouco. Passo os dias a enganar-me, tentando convencer-me de que tudo continua bem. Mas não! Nada continua bem! Aliás, nada nunca esteve bem!
Com o passar do tempo, acabarei por perder a confiança e o respeito de todos. Sou incapaz de responder a todas as questões, não consigo atender a todos os pedidos. E antes, tudo isto estava ao meu alcance...
Terei uma semana para não pensar sobre isto. Estarei longe e poderei ou tentar perceber as razões para esta situação ou simplesmente fugir, como a excelente cobarde que sou.
Obviamente, é mais fácil fugir, por isso deduzo que será isto que farei.

CITAÇÕES

retiradas de "Não Há Coincidências", de Margarida Rebelo Pinto
. «Gostava de ser como tu, de ter essa capacidade estóica de enterrar os meus fantasmas, mas em vez disso passeiam-se todos os dias à minha frente.» - p. 81
. «Aquilo que não nos mata torna-nos mais fortes. Mas só aquilo que não nos mata...» - p. 129

retiradas de "Até ao Fim", de Vergílio Ferreira
. «Não me sinto confortável em parte nenhuma do meu ser (...). Não me sinto bem nele, devo ter nascido em mim por engano.» - p. 93
. «Uma explicação nunca explica nada do que há para explicar.» - p. 159